quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Palavras X Atitudes no mundo do Rock

Começarei com um trecho de uma letra de música, depois um comentário de um blog de uma cantora:


 ...Me disseram que ele está
Em todo lugar
Nas filas, nas calçadas
Nas antenas e no ar
Não vou fazer pedidos
Nem lhe agradecer
Se Deus está na Terra
Ele vai ter que responder...

Não leve a mal
Tudo bem ô, rapaz!
Ei você ai de cima!
Entre outras coisas
Que eu quero saber
Por favor me ensina
Como esse povo que sofre
Com fome, que passa mal
Vai batucar na panela vazia
E fazer carnaval...

Oh Oh Oh!
Ai, meu Deus!
Eu só quero entender!...

“Não gostar de Axé é normal! Anormal é achar-se superior porque conhece John Coltrane ou porque adora o Metallica. Procurem no Google sobre a história de um ariano que se achava superior aos judeus…
Há tanto por fazer. E pessoas com voz ativa, com acesso à internet, manifestam-se como se fossem melhores que as outras porque curtem o LED ZEPPELIN… Hein?”

Bom... a música é o que se tem costume de chamar de "axé" (apesar de a banda se chamar "Terra Samba"), e o comentário logo abaixo dela é da cantora de axé "Cláudia Leitte" após sua apresentação no "Rock in Rio" . A música está aí como uma curiosidade, por ser difícil encontrar uma música nesse estilo que fale sobre coisas mais sérias. Acontece que o mesmo ocorre com várias bandas de rock - por isso o comentário da cantora de axé - sem que eles sejam criticados pelos rockeiros por isso. Mas teriam que ser criticados por isso?

Eu, particularmente, prefiro letras sérias, que tenham um pé em questões sociais, ou mesmo, filosóficas (dependendo do grau). Rock, pra mim, tem que ter questionamentos. Mas é pura preferência minha, talvez porque eu precise de certa dose de identificação com alguma coisa de vez em quando. Tal identificação só encontrei em letras de rock com maior frequência. Já ouvi muita música eletrônica nessa linha também (Moby, por exemplo) e vi, recentemente, a letra do axé aí em cima. Mas, até onde sei, o rock não tem esse tipo de finalidade. Muitas bandas de rock, talvez as primeiras até, sempre me deram a impressão de ser mais despreocupadas. Existe, inclusive, a ideia de uma relação de rock (ou rock' n' roll) com sexo, o que o colocaria, talvez, na mesma linha do nosso funk brasileiro, visto o direcionamento desse assunto nas músicas. Mas não vou me focar muito nisso, porque não consegui informação necessária para linkar aqui que comprovem essa ideia.

Fato é que existem letras românticas de rock; letras "pra cima"...

Afinal, por que gostar de rock significa "ter atitude"? De onde vem isso? O que vejo por aí são pessoas iguais vestindo "bandeiras" diferentes. Vejo pessoas de abadá, e vejo pessoas com camisa do Led Zeppelin e, sinceramente, só percebo diferenças nos gostos musicais. Raramente conheço uma pessoa com uma cabeça ou atitude (isso é o mais difícil) fora dos padrões. Quando acho, às vezes me surpreendo em ver que a pessoa não gosta de rock. Sim! Surpreendo por causa desse rótulo que o rock traz, o que não condiz - pelo menos hoje em dia - com a realidade.

Atitude não tem nada a ver com tatuagens, piercings e rock! Tem alguém que ainda vê tais coisas como símbolos de atitude?? Rebeldia?? Difícil mesmo é ser diferente de verdade! Quem é diferente de verdade, raramente vive em grupos de muitas pessoas, ou esbanja amigos em redes sociais e situações reais! Ser diferente não é tão vantajoso quanto gritam por aí aqueles que querem se vender como cool vestindo uma camisa preta! Ser diferente causa sofrimento! Tá muito longe de ser fácil e de ser algo que você queira se gabar! Existe uma grande diferença entre expor algum tipo de diferença pedindo respeito e expor a diferença porque você gosta dela. O rock não é mais mal visto. Na minha opinião, virou até um certo motivo pra tirar onda de intelectual e cult. Conheço, inclusive, gente que quase nunca ouve rock (gente que conheço bem de perto) e que vive gritando pro mundo que é rockeiro. As mesmas pessoas que vão ao "Rock in Rio" provavelmente vão estar vestindo abadás de grandes blocos no Carnaval de Salvador. Muitos desses "rockeiros" se contentam apenas em ir em pequenas festas de rodeio tradicionais em algumas cidades e, é claro, não perdem a chance de manifestar tal "grande acontecimento" nas redes sociais (pagando, talvez, a mesma quantia que pagaram no ingresso do Rock in Rio).

Ainda acho que as pessoas se prendem nas origens das coisas e não veem que tudo está diferente. Para muitos, inclusive, se você se mostrar diferente, estará sendo "um chato daqueles que acham que vão mudar o mundo". Acho que a cantora baiana em questão está muito certa a respeito do que diz. E acho que ela teve uma atitude muito mais "rock' n' roll" ao expor o que pensa, porque ela tem a quem temer. Tem toda uma "indústria" investindo nela e, ainda assim, ela não se calou como a maioria faz (inclusive rockeiros com rabo preso). Há quem diga que ela exagerou ao comparar pessoas "normais" a um nazista. Pois eu sou capaz de "incrementar" o que ela disse. Teve um outro - que nasceu judeu - que se achava superior aos judeus e, graças a isso, é hoje o símbolo da maior religião do mundo! Tudo bem que ele não matou ninguém para isso, mas, até onde sei, é o motivo de ainda existirem guerras no mundo avançado intelectualmente que a gente vive.

 Bom...eu continuarei ouvindo o rock que "fala a minha língua", não ouvindo o rock que fala de amor, não ouvindo axé, ouvindo qualquer coisa que não seja rock e que eu goste da letra (quando aparecer) e achando um absurdo um povo que se gaba da atitude de vaiar Carlinhos Brown e Cláudia Leitte num evento, mas não tem peito para se juntar e fazer um "barulho" em Brasília, e ainda é capaz de tirar fotos com os políticos como se eles fossem celebridades!



Blog da cantora onde está o texto completo dela: http://www.blogdaclaudinha.com.br/2011/09/a-rita/
Letra completa da música citada acima: http://letras.terra.com.br/terrasamba/48866/